No último final de semana
presenciei uma cena que me chamou atenção. Era início da madrugada de domingo,
01:00 h, quando um empresário, dono de uma pizzaria, estava encerando sua
jornada de trabalho e subitamente, depois de guardar um cavalete de publicidade,
organizar a frente de seu estabelecimento e preparar-se para fechar a porta,
ele cumpriu uma última tarefa, subiu numa mureta e retirou uma lâmpada que
ficava acima da entrada.
Este gesto, ao qual nos acostumamos
e geralmente nos passa desapercebido, retirar e guardar uma lâmpada, obviamente
para não ser depredada ou roubada, é de um enorme simbolismo. Por que alguém
que, após uma jornada estafante de trabalho, da qual resulta a geração de
empregos e arrecadação de impostos, preocupação com o preço dos ingredientes de
suas pizzas, com a satisfação de seus clientes, com as contas para pagar, ainda
tem que lembrar de retirar uma lâmpada. Certamente não é pelo preço de uma
lâmpada, mas de várias que ele já tenha perdido.
Fiquei olhando aquela cena e
confesso que aquilo me impactou. A que ponto chegamos nos níveis de
criminalidade. Claro que se eu estivesse no lugar dele, faria o mesmo, mas, é
uma situação de causar indignação, revolta, uma sensação de impotência. Será
que a violência está nos vencendo? O que fazer para mudar este quadro? Quanto vale
uma lâmpada para a sociedade? Vale o risco de torcer o pé ao retirá-la? Vale o
risco de ser assaltando naquele momento? Vale a resignação de guardar e repor
diuturnamente? Vale uma vida?